terça-feira, 9 de setembro de 2014

O templo e o culto, as duas facetas religiosas de Marina Silva





Por Fábio de Oliveira Ribeiro, no GGN

As relações entre religião e política são antigas. Fustel de Coulanges afirma que:

“Seria fazer bem falsa idéia da natureza humana se julgarmos essa religião dos antigos como impostura, ou, por assim dizer, uma comédia. Montesquieu imaginou que os romanos inventaram o culto somente para conter o povo.

Religião alguma revê semelhante origem, e, fosse qual fosse, a que tivesse unicamente tal razão de utilidade pública para se impor não se manteria por muito tempo. Montesquieu diz ainda que os romanos subordinaram a religião ao Estado, mas dizer-se o contrário seria mais verdadeiro; é impossível alguém ler algumas páginas de Tito Lívio sem ficar impressionado diante da dependência absoluta em que os homens, em Roma, se encontravam para com os seus deuses.” (A Cidade Antiga, Fustel de Coulantes, RT, 2ª edição, 2011, p. 213)

A desagregação da sociedade antiga originou a Idade Média, período em que a Igreja Católica passou a exercer poder espiritual e temporal. Durante séculos os Papas governaram seus Estados e tiveram exércitos à sua disposição. Um deles chegou a comandá-los pessoalmente em batalhas. A Reforma protestante foi uma reação aos desmandos da Igreja Católica, mas preservou a principal característica do catolicismo: a politização da religião.

Após a Revolução Francesa, porém, o Estado foi sendo paulatinamente afastado das religiões. O motivo desta inovação foi a constatação racional de que a politização da fé havia provocado intermináveis e sangrentas guerras religiosas que comprometeram a saúde econômica das nações européias. Na primeira metade do século XX o próprio Estado se tornou objeto de culto, fato que provocou guerras e extermínios por razões religiosas (o Holocausto dos judeus). Nos dias atuais, o culto da natureza judaica do Estado de Israel está provocando o Holocausto dos palestinos, mas não é exatamente disto que pretendo falar.

Nas eleições presidenciais em curso a politização da religião é um fato tão evidente quanto temerário. Alguns candidatos que pretendem ocupar o Palácio do Planalto se ajoelharam diante de símbolos religiosos (como o Templo de Salomão, por exemplo) e prometem governar segundo a verdadeira fé. Marina Silva ostenta sua condição de evangélica como se já tivesse sido eleita por Deus, cabendo aos eleitores apenas confirmá-la no cargo de Presidente da República. A República, porém, tem Constituição escrita que separa o Estado da religião.

E já que estamos falando de religião é preciso evocar outro culto moderno. Refiro-me ao neoliberalismo, seita econômica que, contrariando os cânones da ciência macro-economia, faz apologia da desregulamentação bancária e da submissão do Estado ao mercado. Nesse culto moderno os operadores do mercado emergem como guardiães da teologia, o Banco é a catedral e o dinheiro é o único deus. Um deus voraz e vingativo, que premia os arautos da fé e pune os trabalhadores a cada crise cíclica que intensifica a concentração de renda.

O programa da candidata do PSB endossa o neoliberalismo. A intimidade entre Marina Silva e a dona do Itaú indica que ela já foi iniciada no culto financeiro, que ela ora para o deus dinheiro. Tempos ruins estes em que uma candidata com chances de chegar à presidência tem duas religiões e pretende submeter um Estado laico a dois deuses.

Qual dos dois deuses de Marina Silva terá mais poder numa gestão dela? O deus dinheiro que pretende submeter todos a crises cíclicas para que os Bancos possam concentrar renda nas mãos de poucos ou o deus dos evangélicos que supostamente exige que seus fiéis sejam caridosos? 

Com a palavra a papisa do Itaú.

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