Ao andar pelos caminhos da vida* parei de lutar
contra o tempo**. É chegada a maturidade. Hora de recolhimento, do aguardo. De
esperar a hora do repasto à partilhar a dor, o amor, o conhecimento, a bebida e a comida. É hora
de pensar e pesar meus valores. Do que vivi, aprendi? Do que sofri, conheci?
Refletir.
Rebuscar a memória. Lá no recôndito da
consciência estão minhas sensações de pertencimento. E não são poucas. Ali
estão conhecimentos de uma infância livre e partilhada em Queimadas em que os banhos
de rio, as cabanas, caçadas, as estórias contadas em vozes sussurradas forjaram
o pré-adolescente para lutar contra a prisão do Internato nos Maristas de
Senhor do Bonfim e contra uma liberdade podada, pelo menos a liberdade
política, na Bahia antiga, hoje Salvador.
Refletir.
Mais uma vez. Valeu a caminhada? Estou apaziguado
com meu longo aprendizado, ou, no meio do caminho ganhei espinhos tão profundos
que suas dores e uma enorme soma de dúvidas estão dissimuladas? Ou, como cantou
Erasmo Carlos "estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim"?
Refletir.
Não há um fim à vista. A vida não é uma estrada
reta e finita e o limiar da velhice é apenas o início de uma nova jornada.
Somos o poder do conhecimento pelo variado e valioso saber acumulados aos longo
dos anos. Devemos, portanto, transmitir prudência e ensinar o poder da reflexão
que alcançamos no limiar da velhice? E os jovens guerreiros do saber adotam a
reflexão como ponto de partida para suas buscas? Ou perseguem o inatingível e
terminam numa encruzilhada trocando, com o demônio, seu longo aprendizado por
um sucesso imediato?
Refletir.
Ou somos nós a encruzilhada? O que transmitimos,
ensinamos e refletimos? Representam esses jovens que hoje saem às ruas com o
ódio estampado em rostos juvenis a essência do nosso conhecimento? E o diálogo
enlouquecido produzido na WEB é fruto do nosso pertencimento?
Refletir.
E nessa caminhada encarniçada em busca do nada
por que muitos no limiar da velhice se agarram ao ódio, ao preconceito? Como
foi forjada esta geração antiga que esqueceu que a bandeira política, ou se
querem, a luta ideológica se dá no campo das ideias e não no matar, no esgoelar
o outro lado? O que aconteceu aos jovens e velhos do meu País? Não tem mais fim
essa estrada? Caminhamos para o ódio entre irmãos?
Refletir.
Não posso mais, mesmo no limiar da minha velhice,
ter o direito da escolha? Ser PT, PCdoB me transforma e me transporta para os
"guetos de Varsóvia"? Aonde foi parar a humanização do
pertencimento? Quem é dono do bem? Quem
é dono do mal? Estamos caminhando em direção a uma encruzilhada em que a
escolha, por falta de opção, será o contrato com o Demônio na busca de um
sucesso que poderá se transformar numa noite de escuridão de 20 ou 30 anos? Não
custa refletirmos.
*Cora Coralina
A Procura
Andei pelos
caminhos da vida.
Caminhei pelas ruas do destino-
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou que
ela tinha se mudado sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza
Ela me fez entrar:
deu-me veste nova, perfumou meus cabelos...
fez-me beber de vinho.
Acertei o meu caminho.
Caminhei pelas ruas do destino-
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou que
ela tinha se mudado sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza
Ela me fez entrar:
deu-me veste nova, perfumou meus cabelos...
fez-me beber de vinho.
Acertei o meu caminho.
**Viviana Mosé
Pensador
Quem tem olhos pra ver o tempo
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina
Sem raiva nem rancor.
O tempo riscou meu rosto com calma
Eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença).
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
A vida anda passando a mão em mim.
Acho que a vida anda passando.
A vida anda passando.
Acho que a vida anda.
A vida anda em mim.
Acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Na verdade faz tempo
Mas eu escondia
Porque ele me pegava à força
E por trás.
Um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo,
Se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Acho que ganhei o tempo
De lá pra cá
Ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando.
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina
Sem raiva nem rancor.
O tempo riscou meu rosto com calma
Eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença).
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
A vida anda passando a mão em mim.
Acho que a vida anda passando.
A vida anda passando.
Acho que a vida anda.
A vida anda em mim.
Acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
E por falar em sexo
Quem anda me comendo é o tempo
Na verdade faz tempo
Mas eu escondia
Porque ele me pegava à força
E por trás.
Um dia resolvi encará-lo de frente
E disse: Tempo,
Se você tem que me comer
Que seja com o meu consentimento
E me olhando nos olhos
Acho que ganhei o tempo
De lá pra cá
Ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando.
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