Estamos órfãos
Cabelos brancos como a neve do
tempo, lá estava quase sucumbido pela multidão um companheiro de jornada. Um
amigo, um companheiro dos tempos de uma juventude quase esquecida e que não se
viam na linha de tempo. Pensa, e sente.
Foi-se um visionário. Um visionário do bem. Um homem que construiu ao
longo do seu tempo, um tempo só seu, dividido entre aqueles que o amavam, o
compreendiam, o aceitavam. Ao tempo dos seus 81 anos em que abraçou uma perspectiva
de vida. Vida no seu tamanho natural.
Lá, no alto de onde se
descortinava a cidade que amou e que se dedicou por oito décadas, o amigo deixou-lhe o último abraço. Não partiu,
sibilou. Acomodou-se Deraldo Dias. Viajou num
silencio que cultivou por uma vida. Apagou-se a serenidade; a voz gentil
de um cavalheiro das antigas. O que cultivava o bom senso e a gentileza sem que
perdesse, jamais, a autoridade sensata de suas opiniões.
E
assim minha terra fica menor. Não porque mais um maior saiu de cena. Mas porque
teima em não surgir seguidores. Sequer, imitadores. Na transição de nossos
pais, o medíocre; o ilusionista; o deseducado; o analfabeto político, enfim, o
corrupto, assume pose de imperador e ares de inteligente. E o novo envelhece na
adolescência e cai no fundo do poço da mediocridade. Descanse, em paz, Deraldo
Dias.
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