quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"J' Accuse"



 
 Capa do jornal "L'Aurore" de 13 de janeiro de 1898, com a carta de Zola sobre o caso Dreyfus.

"Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. Mes nuits seraient hantées par le spectre de l'innocent qui expie là-bas, dans la plus affreuse des tortures, un crime qu'il n'a pas commis".

            Dessa forma o escritor frances Émile Zola inicia seu artigo em forma de carta dirigida ao presidente da república francesa, Félix Faure em defesa da inocência de Dreyfus em 13 de janeiro de 1898 e publicada no jornal “L’Aurore.

“Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.

Longe, mas muito longe de fazer qualquer comparação com a fala de hoje da professora Carla na Rádio Queimadas FM, num espaço surpreendentemente aberto por Jairo Alves para que ela pudesse acusar, este é o termo correto, os vereadores que, supostamente, poderiam votar pela aprovação das contas do ex-prefeito Paulo Sergio Brandão, relativas ao exercício de 2011 e rejeitadas previamente pelo Tribunal de Contas do Município.

Não, o “J’accuse” do escritor Émile Zola tinha princípios mais nobres (sem ofensas à nobre professora) e objetivos mais sublimes (sem ofensas à Camara). O “Eu Acuso”, em bom português, de Émile Zola foi um ataque direto aos generais e oficiais responsáveis pelo que ele considerou um erro judicial que processou e condenou Dreyfus; aos especialistas em grafologia segundo ele, culpados pela feitura de “relatórios mentirosos e fraudulentos”, além de acusar o exército e a campanha mentirosa da imprensa, e o Conselho de Guerra.

Me veio a mente a carta de Émile Zola não apenas pela referencia que a professora Carla fez aos reis de França e a guilhotina, mas, principalmente, pelo tom em forma de acusação na sua fala. Mas é a partir daí que as diferenças sobressaem. Sobretudo, em qualidade. Na verdade foi um pronunciamento mas para ponta de rua, sufocado, engasgado mais digno de dois desafetos à brigar numa esquina, numa feira ou  à porta de um bar.

Foi um desabafo agressivo, antiético e, acima de tudo desproporcional e não condizente com o nível intelectual que, por certo, desfruta a professora Carla. Palavras e frases chulas como: “Peraí, Peraí; “fede ou não Fede”; Ah!, é? Ah!, é? “Tá vendo”! “tá bem”! Quem quiser que seja idiota, porque eu não sou (sic...). “Ela não tem vergonha na cara. Está no código genético dela. Está no DNA (referindo-se a vereadora Walda mesmo fazendo o adendo de ser “vergonha política)”.

Todos nós temos o direito à indignarmos com aquilo que consideramos errado. E a professora tem todo este direito. Mas ela não pode esquecer que ela não fala por ela. Ela fala por uma comunidade. E uma comunidade que precisa ser não apenas formada, educada, mas, conscientizada dos seus direitos e de seus deveres.

Se a professora Carla que detém este papel extrapola, perde o senso de oportunidade e passa a agredir não apenas os vereadores ou parte deles por exercerem uma prerrogativa que seus eleitores deram, mas a própria Instituição, como pode, voce, professora Carla encarar seus alunos e, o que é muito pior, os eleitores se, por ventura, queira, mais uma vez, fazer parte desta Casa que tanto vilipendiou neste dia?

O discurso, ou a narrativa da professora Carla, uma cópia mal feita do J’Accuse” de Émile Zola foi um arrazoado de contradições. “Não pedi aos alunos que fossem a Camara. Não houve imposição”. No entanto, logo em seguida declara: “Como havia horário vago expliquei aos alunos a razão do protesto. Não falo mentira. Falei que iria protestar contra a suposta aprovação. Se eles desejassem, que poderiam ir. Mas não são obrigados”.

Protesta a professora Carla porque foi criticada por vereadores, por tumultuar a sessão. Critica e acusa uma vereadora por pedir vista do processo acusando-a de fazer maracutaia, conchavos. Convicta, afirma que ninguém vai calar sua indignação. “Ela (a vereadora) teve tempo de analisar os processos. Eles (os vereadores) ganham razoavelmente bem para trabalhar e o que vimos foi uma manobra. A quem interessa? Ninguém aqui é besta, idiota. Minha indignação ninguém cala. Quem quiser que seja idiota. Eu não”.

Este texto não tem a intenção de denegrir a imagem da professora Carla ou a imagem dos estudantes que foram protestar na Camara de Vereadores, ou mesmo de defender o presidente da Casa e os vereadores que se posicionam contra ou a favor da aprovação do relatório do TCM. Pelo contrário. Na salada em que se transformou a votação das contas do ex-prefeito Paulo Sérgio Brandão relativas ao ano 2011 na Camara de Vereadores na manhã de hoje, destaco o bom vento que soprou de uma pequena parcela da juventude queimadense que lá compareceu para protestar.

O mau vento, é que ele veio carregado de preconceito, falta de respeito, ignorância sobre as prerrogativas da Camara e por não ter sido (o “protesto”) uma manifestação espontanea. E mais grave: ter saído de dentro da escola sob o comando de uma voz dissidente que se faz ouvir desde muitos anos atrás: a da professora Carla.

            Alguns alunos (oito ao todo) estiveram na Rádio FM Queimadas para, entre coisas, reafirmar seus direitos a se manifestarem e para negar que foram à Camara protestar contra a suposta aprovação das contas a mando da professora Carla. O argumento por si só é falho. Se verdade fosse não seria necessário recorrer ao expediente de negar o que não houve.

E ademais ao se referir à professora Carla, todos os alunos, sem exceção, enalteceram-na lembrando de que ela tem opinião própria, como se isso fosse alguma novidade. O mais grave foi confessarem de viva voz: “ela não nos obrigou. Foi um chamado. Ela nos pediu que fossemos para protestar contra a possível aprovação das contas”, externaram praticamente todos os estudantes presentes na emissora.

Aqui eu quero abrir um parêntese: não é papel de professor, qualquer um, convocar alunos para irem as ruas protestar contra ou a favor de aprovação de contas de ex-prefeitos; contra ou a favor de qualquer política, inclusive, a educacional. É papel do professor estimular o debate; conscientizar os alunos em todos os ramos da atividade, inclusive, da política. Mas sem partidarismo. No meu entendimento cabe ao professor despertar o aluno estimulando a produção de conhecimento.

E neste processo de conhecimento, neste despertar para uma nova realidade cabe também ao professor agregar valores (humanos e de cidadania) e potencializar suas competências. Para isso, o professor deve oferecer um quadro da realidade político/administrativo do seu país, do seu Estado e do seu município.

Mas isso não significa que ele, o professor, deva estimular o protesto partidário; a manifestação, por mais justa que ela seja apenas porque esta é a vontade ou a ideologia do professor. Sem esquecer que na diversidade de uma escola o professor labuta com alunos de diversos extratos sociais o que se traduz em visões de mundos opostos.

Para reflexão do papel da escola e do professor retiro um texto da professora Maria Angélica Ferreira Fonseca (O papel do professor: repensando a prática pedagógica rumo à educação de qualidade), por acaso, achado na internet ao procurar entender mais um pouco a responsabilidade do professor em sala de aula.

“A Escola que busca hoje ser um espaço de rupturas, transformações e de construção de uma sociedade verdadeiramente democrática deve ter seu trabalho primeiramente, pautado no fazer pedagógico e nas premissas das quatro aprendizagens (UNESCO, 1999): aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas e aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes.

Para aqueles que querem conhecer um pouco a carta de Émile Zola segue abaixo um pequeno trecho: A título de precisão, o artigo de 13 de janeiro deve seu nome ao fato que, na sua conclusão, todas as frases comecem pela expressão J'accuse (Eu acuso). Há mais de 100 anos um escritor se levantou contra a injustiça e o preconceito. Émile Zola lançou o manifesto Eu Acuso!, nas páginas do jornal L'Aurore, onde denunciava em uma carta endereçada ao presidente francês, as injustiças do julgamento do Capitão Dreyfus acusado injustamente de traidor da França. Esse manifesto foi um marco da luta contrar o autoritarismo
  • « J'accuse le lieutenant-colonel du Paty de Clam d'avoir été l'ouvrier diabolique de l'erreur judiciaire, en inconscient, je veux le croire, et d'avoir ensuite défendu son œuvre néfaste, depuis trois ans, par les machinations les plus saugrenues et les plus coupables.
Eu acuso o tenente-coronel du Paty de Clam de ter sido o artífice diabólico do erro judiciário, inconscientemente, quero crer, e de ter em seguida defendido sua obra nefasta, durante três anos, através de tramas absurdas e culpáveis.
  • J'accuse le général Mercier de s'être rendu complice, tout au moins par faiblesse d'esprit, d'une des plus grandes iniquités du siècle.
Eu acuso o general Mercier de ter-se mostrado cúmplice, ao menos por fraqueza de espírito, de uma das maiores injustiças do século.
  • J'accuse le général Billot d'avoir eu entre les mains les preuves certaines de l'innocence de Dreyfus et de les avoir étouffées, de s'être rendu coupable de ce crime de lèse-humanité et de lèse-justice, dans un but politique et pour sauver l'état-major compromis.
Eu acuso o general Billot de ter tido nas suas mãos as provas certas da inocência de Dreyfus e de tê-las abafado, de se tornar culpado deste crime de lesa-humanidade com um objetivo político e para salvar o Estado-Maior comprometido.
  • J'accuse le général de Boisdeffre et le général Gonse de s'être rendus complices du même crime, l'un sans doute par passion cléricale, l'autre peut-être par cet esprit de corps qui fait des bureaux de la guerre l'arche sainte, inattaquable.
Eu acuso o general de Boisdeffre e o general Gonse de serem cúmplices do mesmo crime, um sem dúvida por razão clerical, o outro talvez devido a esse espírito corporativista que torna os gabinetes de guerra em arcas santas, inatacáveis.
  • J'accuse le général de Pellieux et le commandant Ravary d'avoir fait une enquête scélérate, j'entends par là une enquête de la plus monstrueuse partialité, dont nous avons, dans le rapport du second, un impérissable monument de naïve audace.
Eu acuso o general de Pellieux e o comandante Ravary de terem feito uma sindicância rápida, e quero com isso dizer uma sindicância da mais monstruosa parcialidade, onde temos, no relatório do segundo, um monumento indestrutível de audácia ingênua.
  • J'accuse les trois experts en écritures, les sieurs Belhomme, Varinard et Couard, d'avoir fait des rapports mensongers et frauduleux, à moins qu'un examen médical ne les déclare atteints d'une maladie de la vue et du jugement.
Eu acuso os três especialistas em grafologia, os senhores Belhomme, Varinard e Couard, de terem redigido relatórios mentirosos e fraudulentos, a menos que um exame médico os declare doentes de algum mal da vista e de julgamento.
  • J'accuse les bureaux de la guerre d'avoir mené dans la presse, particulièrement dans L'Éclair et dans L'Écho de Paris, une campagne abominable, pour égarer l'opinion et couvrir leur faute.
Eu acuso os gabinetes de guerra de terem liderado na imprensa, particularmente no L'Éclair e no L'Écho de Paris, uma campanha abominável para distrair a opinião e cobrir seu erro.
  • J'accuse enfin le premier conseil de guerre d'avoir violé le droit, en condamnant un accusé sur une pièce restée secrète, et j'accuse le second conseil de guerre d'avoir couvert cette illégalité, par ordre, en commettant à son tour le crime juridique d'acquitter sciemment un coupable.
Eu acuso enfim o primeiro Conselho de Guerra de ter violado a lei ao condenar um acusado apoiado em uma peça de acusação mantida secreta, e acuso o segundo Conselho de Guerra de ter encoberto esta ilegalidade, sob ordem, cometendo também o crime jurídico de inocentar sabidamente um culpado. »

7 comentários:

  1. Sinceramente, penso que a "culta e correta" professora Carla comunga da expressão PÃO E CIRCO!!! Hoje ela foi a verdadeira palhaça na rádio comunitária Queimadas FM, quando, de maneira grosseira, quis impor a sua opinião sobre os acontecimentos políticos de nossa sofrida terra. Queria muito perguntar a "cientista política" professora Carla:
    1) Onde estava a senhora quando as árvores do contorno foram derrubadas sem o consentimento do órgão ambiental responsável?
    2) Onde a senhora esteve o tempo inteiro quando presencia que funcionários públicos recebam sem trabalhar? A exemplo do dono da emissora que a senhora explodiu sentimentalmente no ar?
    3) Onde a senhora esteve quando a praça Barão do Rio Branco foi derrubada sem antes ter sido apresentado um projeto?
    4) Onde a senhora esteve para falar do funcionamento do Hospital Municipal? Porque na última gestão publicou uma carta sobre o mau atendimento de sua mãe. Será que não se preocupa com os outros conterrâneos seus?

    Subir num pedestal e atirar pedras é muito fácil. Encher a "boca" de prerrogativas prontas é ainda mais fácil. Como diz a frase popular: "ME POLPE CARLA"

    OBS: Penso que o ex-gestor deve pagar a justiça a respeito das suas contas reprovadas e que os vereadores devem investigar as irregularidades e punir sim o ex-gestor. A justiça tem que ser feita, doa a quem doer.

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  2. Entendo todo seu blablabla, como membro desse governo de contas desaprovadas, mas, se a Carla agiu certo ou se a Camara tem prerrogativas ou não, mesmo assim não tira a manobra ridicula da Valda, da berlinda! Sabemos muito bem que ela conhece o processo muito bem, era uma das ferranhas criticas de Serginho e mesmo podendo dar um voto a favor, como a lei lhe dá o direito, a moral e a ética, não lhe dá esse direito, pois é vergonhosa a forma como gestões de Queimadas, tem as contas colocadas em xeque pelo TCM, e vemos sua visão em relaçao a gestão atual, de uma forma toda cheia de razões, mas, pra defender seu aliado, vem textos todos cheios de filosofismos e manobras intelectuais, mas, que certamente não colarão e não deixarão Serginho o prefeito que nunca foi eleito, ter suas contas obscuras aprovadas...

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  3. O texto é fantástico e muito bem escrito,concordo com o autor quando defende o direito de cada edil em se manifestar,o que não consigo entender é a posição da professora Carla,que passei a admirar quando ela tinha um programa na rádio do nefasto Jairo.
    No ano passado aconteceram eleições e ela em nenhum momento se manifestou,saiu da emissora e desapareceu e agora que por milagre aparece mais uma vez.porquê será?qual seu interesse?Está muito claro que para o bem de toda cidade as contas serão rejeitadas.A professora está muito nervosa e perdeu o brilho que tinha há alguns anos atrás.Uma pena.

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  4. Essa suposta professora só tem ideais políticos que favoreçam o interesse econômico dela. Pergunta a ela o porquê ela saiu do grupo de Serginho? Será que foi alguma gratificação requerida e não atendida? Pergunta a ela se ela lê a constituição Federal? Ela deveria saber que o poder legislativo é independente, autônomo, tendo os vereadores autonomia de votar ou não pela aprovação das contas do gestor municipal. E outra, ela sempre com seu discurso vazio, falho e inadequado com inúmeros chavões e palavras prontas quer criar um mundo fantástico e no entanto se fosse assim tão bem quista pela sociedade já deveria ter se elegido, contudo nem cem votos recebe. Não entendo por que isso não é suposta Professora Carla. A senhora deveria ensinar aos seus alunos na prática como a civilidade, urbanidade, maturidade e questionamento plausível são questões importantes também no meio político. Sair desrespeitando os vereadores como a senhora faz, sinceramente, se fosse vereador já tinha lhe processado, fazendo com que a senhora se retrate na rádio, pois denegrir a imagem de quem quer que seja enseja dano moral. Fique sabendo disso. A senhora deveria lembrar também que o corrupto do Dono da Rádio Queimadas FM Jairo Alves, seu amiguinho do coração recebeu dinheiro público, sem qualquer justa razão, ilicitamente locupletando-se sem motivo. Isso sim, mereceria uma movimentação dos estudantes. Por que não vai? Qual interesse?

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    1. Ao invés de defender as contas do ex-prefeito (nunca eleito) Serginho, deveria fazer o texto, tentando explicar, uma formula matemática (se é que é possivel), como alguém que entra na prefeitura pobre e quebrado, com rendimentos de pouco mais de cem mil por ano, sai milionário, sem roubar, superfaturar ou desviar!!! Se alguém conseguir, me provem...

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  5. A questão aqui não é se o ex-gestor roubou ou deixou de roubar, porque isso ele pagará a Justiça humana e divina, mas sim o TOTAL DESEQUILÍBRIO DA "SABE TUDO" PROFESSORA CARLA. Perdeu as estribeiras só porque a Vereadora Valda pediu vistas??? Valda tem todo o direito de pedir vistas e fazer uma análise que ela ache justa, apesar de acreditar que a Vereadora votará a favor do Tribunal... Pessoas como a professora não enobrecem a sociedade, apenas fazem tumulto sem necessidade, já que ela poderia contribuir de outras formas e com outros ensinamentos. LAMENTÁVEL!!!!

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    1. Concordo, o trato politico é importante, mas, se a lei assegura a Valda o direito a pedir vistas, a moral não, pois há pouquissimo tempo, ainda no mandato passado, os discursos dela, nunca nos indicariam dúvidas dela em relação a gestão desastrosa de Paulo Sergio. Se não é ilegal pedir vistas e e´um direito, no minimo é imoral do ponto de vista pessoal e ético, o que nos faz supor algum outro interesse de bastidores...

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