Em seu artigo da semana, o professor Wanderley Guilherme dos Santos
explica porque a luta contra a corrupção jamais irá adiante enquanto a
humanidade continuar parindo pecadores. E enfatiza que o problema essencial da
corrupção está nos corruptores.
Por Wanderley Guilherme* no blog O Cafezinho
Mudança de regras – quais?
Os programas da bolsa-família, luz
para todos e de apoio à agricultura familiar, entre outros, não exigiram
modificações prévias na legislação eleitoral ou partidária. O mesmo se diga do
“minha casa, minha vida” e de todos os demais implantados nos últimos dez anos.
O substancial aumento do salário mínimo também ocorreu à distância das regras
de formação de partidos e das cláusulas do código eleitoral. Não são estes os
obstáculos reais à melhoria nos serviços públicos.
Tal como se propala mundo a fora, o mal estar de grandes segmentos da
sociedade decorre da convicção de que as autoridades contratadas, via eleições,
para administrar os recursos das comunidades, não estão oferecendo serviços à
altura do acordado. Pior, estariam se apropriando ilegalmente de parte desses
recursos públicos. Daí a suposição de que exista um conjunto de normas
partidárias e eleitorais capaz de propiciar uma limpeza em regra nos costumes.
Embora tal conjunto, se acaso existisse, não garanta tipo ou qualidade das
políticas públicas que venham a instituir, alguns imaginam que pelo menos os
recursos públicos não seriam mal administrados ou seqüestrados de forma
pecaminosa.
Não conheço e sou cético quanto à existência de tão eficientes regras
partidárias e eleitorais. Em todo caso, elas não se aplicariam ao outro lado
das transações espúrias, isto é, aos corruptores. Talvez no futuro, mas não
agora, as sociedades disponham de filtros aptos a só deixarem vir ao mundo
cidadãos virtuosos. Nesse quesito, e por enquanto, é forçoso reconhecer que o
Brasil hospeda sensacional taxa de corruptores, alguns operando por meios
persuasivos, outros por assédios agressivos. Do jovem motoqueiro insinuando uma
gorjeta ao policial que o multa por excesso de velocidade ao indignado cidadão
que esbraveja contra as instituições políticas, mas, enquanto feliz
proprietário de um estabelecimento comercial, oferece modesta propina para que
o fiscal ignore as insatisfatórias condições de segurança de incêndio de seu
negócio – são raríssimas as exceções à cultura prevalecente no Brasil, segundo
a qual é quase sempre possível esconder uma ilegalidade promovendo outra. E não
há talvez brasileiro que nunca tenha sido objeto de ameaçadora pressão
corruptora por parte dos profissionais liberais – médicos, advogados,
dentistas, analistas, etc. – a cujos serviços recorre com freqüência, deixando
de cobrar-lhes recibos e tornando-se cúmplice de crimes fiscais. Pois, neste
caso, são os corruptores e corruptos que se consideram iguais na demanda por
ética na política, e até justificam a violência niilista de alguns grupos em
passeatas intimidantes pelas ruas do Rio de Janeiro, São Paulo e outras
cidades.
Se o conteúdo material das políticas de governo praticamente nada deve
às regras eleitorais e partidárias, e se a taxa de corrupção na arena pública
depende, em primeiro lugar, da taxa de corruptores privados, há motivo para
duvidar de que a enorme balbúrdia em que se encontra a vida social e política
do país, no momento, venha a resultar em ganhos civilizatórios universalmente
aceitos. Enquanto isso, o mundo da matéria, da economia e da sobrevivência
marcha inexoravelmente, ainda quando as bússolas dos passageiros se encontrem
em adiantado estado de desorientação. O cotidiano nacional se alimenta de
opiniões volúveis e de ideologias desesperançadas. Mas em breve se há de fazer
um levantamento de estoque e o registro dos restos a pagar.
* Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político.
Porque nenhuma noticia no blog sobre a extinção do recurso de André no TRE, pelo Juiz Cássio Miranda? E sobre a audiência de instrução no fórum de Queimadas?
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