sábado, 28 de setembro de 2013

Eles passarão eu passarinho (Mario Quintana)




O “passarinho do pé de fícus do Bar de Osvaldo” que vez em quando sai a perambular em voos rasantes pela cidade e, algumas vezes pousa em locais de onde tira ensinamentos preciosos para o seu lazer diário, esteve hoje na barbearia de “Fan”, point tão importante quanto o Bar de Osvaldo ou o “passeio da casa de fiinha”, quando o assunto é política, notadamente política queimadense. E, como é de costume, saiu alentado com tantos ensinamentos ali recebidos e pronto para traze-los à discussão com os seus poucos, mas fies leitores.
                        Com seu jeito matreiro, com sua voz adocicada que em momento algum parece vir de um ex-delegado de Polícia e de um ex-vereador (profissões, digamos assim, que moldam o ser humano a uma agressividade que muitas vezes não a possuía), Waltinho, um gentleman da conversação franca falava do calor que nos últimos dias assalta a todos, com o mesmo saber com que fala de política e da defesa de melhores dias para nosso município.
                        Sem pestanejar diz: “a barragem da leste não demora a secar. Também com um mangote diariamente a jogar água fora, o que esperar?”. O “passarinho” levantou as asas mostrando surpresa, na verdade, desconhecimento. Ele percebeu e, gentilmente explicou: “é a bomba da Cerb que veio para retirar a areia do fundo da barragem para aumentar o volume de água retido. É que ela desde que começou a funcionar areia nunca tirou, mas a água, ah! essa sim, jorra a vontade”, explicou.
            E continuou com a sua sabedoria de homem acostumado às intempéries do tempo em nosso sertão: “solução para Queimadas só com a construção de pelo menos mais três barragens de médio porte. Uma, na área do Filtro (Alto da Jacobina, acima da Ponte Ferroviária) numa altura suficiente para que a água armazenada chegue ao mesmo nível da Barragem da Leste e se espraiasse Rio D´Água acima. Uma segunda, no encontro dos rios Açu e Mirim, lá pras bandas de João Guedes, e a terceira abaixo da Barragem das Correntezas”.
                        Fan, enquanto esvazia as penas brancas do sessentão “passarinho do pé de fícus do Bar de Osvaldo”, faz cara de muxoxo, interrompe a sua destreza com a tesoura e pergunta como se não estivesse escutando as palavras de Waltinho: “Vai sonhando, porque deste pesadelo já me livrei”, diz e encara o passarinho pelo espelho e fulmina: “Queimadas tá fora do centro do mundo e não consegue nada do governo”.
                        A fala mansa, suave e com timbre de um avô a explicar a seu neto as estripulias da Caipora a quem se aventura a entrar na Caatinga sozinho e desacompanhado do fumo de corda, nos traz de volta ao cenário político: “Isso só ocorrerá quando, e se, as lideranças políticas queimadense entenderem que só com a união de todos é possível conseguir as obras e os projetos que transformarão nossa realidade”, diz e explica:
                        “Alguém sabe quantos candidatos a deputado estadual tiveram votos em nosso município”? E complementa: “mais de 130. E à Camara Federal? Mais de 60” complementa. Ai está, segundo ele, a razão para não conseguirmos absolutamente nada para Queimadas. “Não temos representação política e o pior é que se o mesmo esquema se repetir nas eleições do próximo ano continuaremos a ser um ponto distante no mapa político da Bahia e do Brasil”, pontua.
                        Ainda bem que minhas penas já estavam devidamente podadas e pude sair de fininho. O que responder a este homem de fala mansa, suave e com timbre de voz de avô? Dizer que ele estava enganado e que a democracia exige a participação de todos, pois assim se forma e consolida-se a cidadania? Que nossos problemas não são de representação, mas, sim, de incompetência gerencial? Neste momento, o melhor é parar para pensar e analisar.

Até porque, livre da tesoura, Fan vaticina com aquela lamúria tão própria do nosso sertanejo calcinado pelo sol escaldante: “quero vê o macho que consegue unir nossas lideranças. Isso nunca vai ocorrer. Nem pelo desenvolvimento do nosso município. Vereadores e lideranças estão preocupados, exclusivamente, com seus assuntos pessoais. Na hora “H” (ou seria, agá) em que surge o santo dinheiro de cada deputado, a união desaba. Fala mais alto os interesses pessoais”. Alguém divida? O “passarinho”, não.

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