O governador Jacques Wagner e o secretário de Relações Institucionais
(antiga Casa Civil), Ruy Costa deram aval, hoje, a que os representantes das
várias comunidades que vivem à jusante da Barragem de Pedras Altas, promovam um
protesto contra a não abertura das comportas da barragem que levaria água para
abastecer cerca de 10 mil pessoas que residem nesta região.
Talvez a insensibilidade ou irresponsabilidade
do governo resida no fato de desconhecer a revolta da população que vem
sofrendo há três anos com a falta de água. A tal ponto desconhece a
insatisfação que as propostas do protesto incluem, entre outras medidas, o
impedimento do fornecimento de água para outros 22 municípios ou, cerca de 210
a 230 mil habitantes que hoje dependem da água de Pedras Altas, além do
fechamento da BR-324 por tempo indeterminado.
É o que se pode deduzir do resultado da reunião
convocada por organizações sociais realizadas hoje, na sede do município de
Queimadas, em que estiveram presentes além do prefeito municipal, Tarcísio
Pedreira, o presidente da Camara, vereador Lázaro José, outros vereadores,
presidentes de associações, sindicatos e do MST local. O governo, em que pese a
importância da reunião, enviou membros do terceiro escalão da Secretaria de
Relações Institucionais e da Diretoria Regional da Embasa, de Senhor do Bonfim
que pouco sabe dos problemas da Barragem de Pedras Altas.
Durante o encontro, Marivaldo Dias, em nome do
secretário Rui Costa e do próprio governador foi bastante claro ao esclarecer a
posição contrária do governo pela abertura das comportas: “o governo não pensa apenas numa árvore, mas
em toda a floresta” ironizou ele ao comparar os cerca de 230 mil habitantes de
22 municípios beneficiados com o abastecimento e as “míseras” 10 mil pessoas
que residem, trabalham e sobrevivem às margens e no entorno do Rio
Itapicuru-Mirim.
Para essas
o Governo do Estado já tem sua proposta pronta: a implantação, pela Embasa, não se sabe
quando, de 100 (eu disse 100) cisternas, cada uma com capacidade para armazenar
16 mil litros de água. Como elas serão abastecidas, isso pouco importa. “Por
caminhões pipa”, garantiu Marivaldo Dias. É bom lembrar que o próprio Ruy Costa tem
em mãos levantamento de quantas famílias residem no território do Rio Mirim e que
o Pnad, que acaba de ser divulgado pelo IBGE, traz dados completos de todas as
famílias. E isso relativo ao ano passado.
Essa insensibilidade e irresponsabilidade para
com os moradores nativos que viveram e dependeram nos últimos 200 anos das
águas do Rio Itapicuru-Mirim tem um nome: Ruy Costa, secretário de Relações
Institucionais e candidato do governador Wagner à sua sucessão. Representantes
da sociedade queimadense estiveram um mês atrás no Inema e na Cerb e receberam
sinal verde para a liberação da água, ou seja, a abertura das comportas até que
as águas do Mirim encontrem-se com as águas do Itapicuru-Açu.
Faltava apenas o aval de Rui Costa (a Casa
Civil forma o tripé para administrar essas questões) que negou e agora oferece
como contrapartida a esmola de 100 cisternas para atender a 10 mil pessoas,
além dos animais. Durante a reunião todos foram unanimes em repudiar a proposta
e em criticar a falta de respeito do Governo do Estado para com os moradores do
município, em especial, das áreas do Alecrim, Abobreira e Aroeira.
A verdade é que as propostas do Governo do
Estado para o município de Queimadas não passaram de mentiras de campanha. Na
presença de sua neta, em plena campanha, anos atras, o governador Jacques Wagner garantiu que levaria água
para os povoados de Pedrolandia, Gregório e localidades como Fazenda de Cima e
Cancelas. Mentiu. Prometeu a limpeza da Barragem da Leste que abastece cerca de
60 mil pessoas (as sedes dos município de Queimadas e Santa Luz): mentiu. O prefeito Paulo Sergio Brandão, do PT, solicitou recursos para saneamento b´sico (calçamento), principalmente, Wagner ironizou: "vou quer tudo de uma vez", e nada deu.
Durante o encontro foi lembrado ao terceiro escalão, enviado pelo
próprio Ruy Costa para vir ao encontro, que já foram feitos dois protestos,
inclusive com fechamento da BR-324, e mesmo assim o governo não se sensibilizou
com o desespero de milhares de famílias e de animais. “O terceiro, que ocorrerá
na próxima semana (dia 8), não será apenas mais uma etapa de luta. Ela será a
última. Vamos fechar a BR-324 por tempo indeterminado e vamos interromper o
fornecimento de água para os 22 municípios”, afirmou o vereador Mário Régis um
dos líderes do movimento.
A prefeitura de Queimadas, a Camara de
Vereadores, a Ascoob, sindicatos e associações se comprometeram a desenvolver
todos os esforços para promover a manifestação. “Desta vez o governo vai nos ouvir”,
garantiu Régis.
Ao final da reunião, propus como saída para a
crise ao representante do governo Marivaldo Dias, que o governo como
alternativa, implantasse um programa de racionamento de água para as 230 mil
pessoas que residem nos 22 municípios como forma de abrir as comportas para
atender as outras 10 mil pessoas. Primeiro, expliquei, abrem-se as comportas. Só após a água encher os reservatórios à jusante da barragem, o governo dá início ao racionamento. Dessa forma, divide-se as dificuldades com todas as pessoas envolvidas na questão.
De acordo com Marivaldo Dias nesta quinta-feira
haverá uma reunião entre membros da secretaria de Relações Institucionais,
Inema e Cerb e esta proposta será apresentada, bem como a insatisfação da
população dessas comunidades e a disposição que estão em partir para o confronto
aberto se é assim que o governo deseja. O que todos esperam dessa reunião é que ela traga uma resposta positiva para evitar a radicalização do protesto do dia oito.
Falta de
Planejamento
As barragens de Pedras Altas, Ponto Novo e a do
Aipim foram construídas para perenizar os rios Itapicuru Açu e Mirim.
Serviriam, também, para o abastecimento das sedes das duas cidades onde estão localizadas e para garantir o abastecimento de projetos de irrigação a serem desenvolvidos na área. Os outros 20
municípios já eram abastecidos pela Barragem de São José construída sobre o Rio
Jacuípe. Ambas as barragens foram construídas em governos anteriores ao
governador Jacques Wagner.
O problema é que o governo do PT nos últimos
sete anos esqueceu a região e em que pese o programa Água para Todos que
beneficiou e vem beneficiando milhares de baianos, a região ora em crise não
recebeu qualquer programa para aumentar a retenção de água em seus reservatórios. O que houve foi mais promessa. Em reunião realizada em Queimadas no ano passado para discutir esta mesma crise representantes do terceiro escalão dessas mesmas entidades, acenaram com a implantação de uma nova tecnologia que permite elevar a barragem de retenção desses
reservatórios e a extensão das águas do Tucano Norte (Araci) por meio de uma adutora para abastecer as cidades de Queimadas e Santa Luz, além da limpeza da Barragem da Leste. Mais uma mentira, pois nada disso ocorreu.
Com a seca que se abateu e ainda se abate no em
torno dos rios Itapicuru Açu e Mirim ambos os reservatórios perderam mais de
60% de sua capacidade de armazenamento, entrando em colapso. Mais grave é que o
de São José do Jacuípe simplesmente evaporou e a pouca água que sai não serve
nem para consumo animal tal o teor de sal. A saída do governo foi interligar as
duas adutoras – de Pedras Altas à do Jacuípe - para abastecer o que São José
não mais podia. O resultado é que sai água de Pedras Altas até para povoados de
Santa Bárbara, Conceição do Coité e Serrinha. (um adendo: as chuvas que caíram
na região da Barragem do Ponto Novo deixaram o reservatório com 100% de sua
capacidade. Mas este não está interligado ao outro sistema).
Mas para atender a esta população moradora dos 22 municípios, o Governo do Estado, por meio da
Casa Civil, Cerb e Inema fechou as comportas de Pedras Altas deixando à míngua
os ribeirinhos e moradores de povoados à jusante da Barragem. Este crime contra
uma população, pobre e indefesa, atingiu, também, a vida animal do Rio Mirim,
hoje, visto por todos como um rio morto pela incúria daqueles que deveriam
salvaguardar este patrimônio.
A grita desta gente humilde e sofrida,
portanto, tem razão de ser. É impensável o governo raciocinar com tamanha
insensibilidade. Água para todos os 230 mil habitantes dos 22 municípios que
não fazem parte da Bacia do Itapicuru-Mirim durante toda a semana, e 100 cisternas
para os 10 mil restantes e que moram no território do Rio Itapicuru-Mirim. É um
escárnio. É uma ignomínia. Enfim, é um crime contra nossa comunidade perpetrado
por um governo que recebeu uma votação extraordinária do povo queimadense e se
vê abandonado por este próprio governo.
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