quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

cfm: guerra ao governo e o Brasil que se dane

Jean Menezes de Aguiar
Jean Menezes de Aguiar, no 247

Inacreditável que uma entidade que congrega profissionais queridos como médicos tenha se permitido ser um braço armado para a resistência a uma cepa ideológica tão baixa


Costuma-se falar que o brasileiro é o povo que odeia e ridiculariza seus presidentes. Considera-os imbecis, idiotas e fanfarrões. Deve haver aí a sociologia da utopia ianque, no sentido de achar que somente presidentes americanos são bons. Todo o resto americano também. A direita sempre nutriu esse complexo de inferioridade e o difundiu pedagogicamente por gerações. É a imperdível mania brasileira da tupiniquização mental.

Até quando o governo acerta, o patrulhamento é sabido. A horda se move e dispara: 'mas também, é continuidade disso ou daquilo...'. Com a moeda do real foi assim. Passados séculos de sua invenção ainda se insiste em que ele seja mera continuidade de uma gestação efeagaceizada.

Raciocina-se de duas formas. Ou pelo complexo de colonizado, em que o que vem do exterior é sempre melhor, ou pelo complexo do saudoso histórico, em que antigamente é que era bom, saudade de militares, Collor e outras esdruxularias.

Longe de pacífica, a situação do programa Mais Médicos, implementado pelo governo atual, pode se tornar crítica. A direita reacionária, nitidamente solapada pelo sucesso do MM, tentará usar sua artilharia no governo sem se preocupar com o bem estar da população. Parece ter conseguido um forte aliado: o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Admita-se que desde a primeira hora houve uma ciumeira escancarada. Médicos brasileiros não aceitaram ganhar 10 mil reais nos rincões, mas também tentaram impedir que cubanos e outros fossem. Utilizaram inclusive a via fedorenta do preconceito-patricinha, xingando, ofedendo, comparando cubanos a empregadas domésticas e lixeiros. Uma vergonha nacional.

Bem verdade que o programa vem causando resultados positivos, com atendimento a populações carentes. Mas aí o seu 'erro'. Dispara simetricamente a este sucesso o ódio rácico velhaco por Cuba. Agora muito mais próximo: em médicos atuando no Brasil.

Engana-se quem ache que a reação é meramente ideológica. O Conselho Federal de Medicina surpreendeu a todos quando, em nítida desobediência civil prática, passou a difundir asilo espiritual fomentado por sua poderosa estrutura a médicos cubanos que queiram deserdar. É surreal.

Não são só ideias, mas um braço armado operacional para minar o governo. E não apenas o governo, a população que perderia os médicos cubanos e retornaria a não ter outros em seu lugar. O projeto político do CFM, travesti de uma ideologia que não liga a mínima para pessoas pobres, é conceituável em apenas uma palavra: vergonhoso.

Inacreditável que uma entidade que congrega profissionais queridos como médicos, praticamente um tipo antagônico à classe de advogados, tenha se permitido ser um braço armado para a resistência a uma cepa ideológica tão baixa.

Estimular ódio a Cuba; reacender a ideia que a Cuba boa é a Cuba deserdada; tratar médicos de outras nacionalidades como profissionais de segunda; e, de quebra, estimular toda a carga de preconceito-patricinha que se assistiu quando os médicos estrangeiros chegaram ao Brasil. Aí o menu discriminatório subjacente.

Um horror. Triste e feio. De envergonhar até direitistas que tenham saudável preocupação com o povo sofrido do Brasil.

Tantas explicações podem haver quantas fugas e escapismos ideológicos se quiser. O CFM poderá dizer que sua preocupação é com a saúde da população, que lindo. Que os médicos cubanos não seriam o 'ideal', que bonito. Estas e outras argumentações utópicas e farisaicas.

Encontrar o verdadeiro sentido do fato social é tarefa difícil. Em ano de eleição, o CFM se lançar rancorosamente ao estímulo à deserção de médicos cubanos em um programa que deu certo é se prestar a um papelão.

A população deve ter a sabedoria de perceber a manobra. Qualquer governo erra e tem dificuldades. O Programa Mais Médicos, até aqui não enfrentou qualquer turbulência séria. Nenhuma notícia grave maculou a estada dos médicos estrangeiros no Brasil. Que uma única médica tenha pedido asilo, é um direito dela e um fato isolado.

Muitos desses profissionais já atuaram em outros países sem qualquer percalço. Afigura-se uma covardia e uma arrogância contra todo um povo – de Cuba-, o CFM lançar a campanha pela deserção oferecendo o Brasil, inclusive como barretada com chapéu alheio. O CFM não controla o governo a ponto de poder 'oferecer' institucionalmente isso. Sem se falar que praticamente todos os governos do mundo que outrora eram 'contrários' a Cuba, refizeram suas políticas.

O patético da oferta do CFM está visível e espumoso. Falta amor, falta seriedade e falta respeito ao povo brasileiro. A própria classe médica deveria se insurgir contra o CFM que, visivelmente, passou a ser usado como braço operacional de ataque a um programa que até aqui deu certo.

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