segunda-feira, 31 de março de 2014

Dilma: cidadã de coragem




           Num dia emblemático na história política do Brasil, quando vozes sombrias se manifestam pela volta dos militares ao poder melhor repetir que “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa?” frase de de Karl Marx em O dezoito brumário sobre a repetição dos Bonaparte no poder (Napoleão e Luís). Os jovens de hoje não viveram o horror dos porões da ditadura dominados por oficiais das três armas torturadores que eliminaram cerca de 200 brasileiros e desapareceram com outras centenas.

                  Estes saudosistas da caserna, incluindo políticos ainda hoje em atuação, como Agripino Maia, José Sarney e os grandes jornais em circulação no País, à época, inclusive com um deles (a Folha de São Paulo) fornecendo veículos para transpote de presos políticos para a tortura estão alvoroçados com este dia (hoje). Querem rever a história e transformar uma ditadura sanguinária em uma ditabranda; querem fazer-nos acreditar que golpe militar foi um mau necessário. Inclusive, este democrata de araque, Fernando Henrique Cardoso.

         Para essas alegres vivandeiras de quarteis reproduzo para vocês as palavras da presidente Dilma Roussef proferidas em resposta a uma pergunta de um desses pergaminhos antigos de nódoa durante audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado em 7 de maio de 2008





Senador José Agripino Maia (DEM): 

"A senhora mentiu na ditadura, mentirá aqui?"

DILMA ROUSSEFF: 

"Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira.
Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para os seus interrogadores, compromete a vida dos seus iguais e entrega pessoas para serem mortas.

      Eu me orgulho muito de ter mentido senador, porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia se fala a verdade, diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. E isso (aplausos) e isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho, e eu não estou falando de heróis.

 Feliz do povo que não tem heróis desse tipo, senador, porque agüentar a tortura é algo dificílimo, porque todos nós somos muito frágeis, todos nós. Nós somos humanos, temos dor, e a sedução, a tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande senador, a dor é insuportável, o senhor não imagina quanto é insuportável. Então, eu me orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido, porque eu salvei companheiros, da mesma tortura e da morte.

Não tenho nenhum compromisso com a ditadura em termos de dizer a verdade. Eu estava num campo e eles estavam noutro e o que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. E esse país, que transitou por tudo isso que transitou, que construiu a democracia, que permite que hoje eu esteja aqui, que permite que eu fale com os senhores, não tem a menor similaridade, esse diálogo aqui é o diálogo democrático. 

A oposição pode me fazer perguntas, eu vou poder responder, nós estamos em igualdade de condições humanas, materiais.
Nós não estamos num diálogo entre o meu pescoço e a forca, senador. Eu estou aqui num diálogo democrático, civilizado, e por isso eu acredito e respeito esse momento. Por isso, todas as vezes eu já vim aqui nessa comissão antes. Então, eu começo a minha fala dizendo isso, porque isso é o resgate desse processo que ocorreu no Brasil. Vou repetir mais uma vez:

Não há espaço para a verdade, e é isso que mata na ditadura. O que mata na ditadura é que não há espaço para a verdade porque não há espaço para a vida, senador. Porque algumas verdades, até as mais banais, podem conduzir à morte. É só errarem a mão no seu interrogatório.

E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diversos da nossa vida em 70.
Eu asseguro pro senhor, eu tinha entre 19 e 21 anos e, de fato, eu combati a ditadura militar, e disso eu tenho imenso orgulho."

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