Existem vaias de todas as
formas, cores, tamanhos, movimento e sonoridade. A vaia, por exemplo, que o cantor
e compositor Sérgio Ricardo recebeu ao não conseguir agradar ao público ao
cantar a música de sua autoria “Beto bom de bola” e que o acompanhou
durante toda a apresentação. Inconformado, quebrou o violão que tocava e o
arremessou na plateia.
Caetano e os Mutantes também não escaparam da reação de uma
plateia indignada pelo uso de guitarras quando da apresentação da música "É
proibido, proibir". Em resposta à multidão enfurecida que lhes deu
as costas, Caetano fez um discurso furioso questionando os jovens: "mas
é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Isso ocorreu
durante os festivais dos anos 67/68 da Música Popular Brasileira produzidos
pela TV Record.
Mas existiram outras vaias pelo mundo afora, algumas surreais,
como a do dia em que o nosso astro rei, o Sol foi vaiado e sem censura por
inúmeros cearenses que lotavam os bancos da Praça do Ferreira. A Terra do Sol,
vaiar o Sol parece até coisa de baiano, não? Pois bem. o Ceará enfrentava uma
seca inclemente e por dois dias o céu se apresentava nublado.
Pois foi justamente naquele dia, numa tarde do dia 30 de janeiro
de 1942 que a vaia não foi dirigida para a 2ª Grande Guerra que prosseguia com
sua carnificina nos países da Europa e Ásia. Foi para o Astro Rei que surgiu
brilhante espantando a chuva tão desejada.
Mas há vaias, e vaias. A do alcaide queimadense é daquelas
que merecem entrar para o Livro dos Records ou o Guinness Book. Não pela sua
dimensão; pela quantidade de pessoas a vaiar; pela sonoridade, enfim por
nenhuma dessas alternativas que fazem com que determinado infortúnio, como uma
vaia, ganhe suas páginas privilegiadas.
É que essa vaia saiu do coração de um povo sofrido,
amargurado e vilipendiado por um prefeito incompetente, prepotente e agressivo
e apenado por uma administração considerada como a pior da história política e
administrativa do município. Isso, em que pese o prefeito Tarcísio Pedreira pagar a
peso de ouro um pedaço de papel em que empresas pilantras premiam aqueles que
não têm caráter e se utilizam dos recursos públicos para se promoverem e, o que
é pior, de forma tão barata.
A cada passo que dava entre o meio de campo e a pequena área
para cumprir uma exigência dele próprio, o de cobrar um dos três pênaltis (o
jogo havia terminado empatado e a disputa era por uma sequência de três
penalidades máximas), o alcaide foi se transfigurando.
Com os primeiros apupos sua tez foi se alternando; com o
aumento das vaias das quase 700 pessoas que foram assistir o final do torneio, seu
semblante foi mudando e aquele sorriso falso que políticos inescrupulosos
costumam oferecer aos eleitores deu lugar a um esgar, ou seja, uma careta
disforme e raivosa.
Por fim, ao colocar a bola na marca o pênalti e com a gritaria
chegando ao apogeu e todos a gritar "vai perder", "vai
perder" uma "baba" embranquecida saia discretamente pelo canto esquerdo de sua boca. Ali, naquele momento, com mãos trêmulas e as pernas bambas de
ódio, ele percebeu o desastre.
Mas era tarde para voltar atrás. Não ele, o todo poderoso
filho de "Mainha", a execrável, nas palavras de se tio, o ex-prefeito
José Mauro de Oliveira Filho, irmão de sua genitora. Correu desajeitado,
enfraquecido e zonzo pelas vaias que sabia serem exclusivamente para o seu
reinado desastroso e chutou nas mãos do goleiro adversário.
Guardou suas lágrimas para o colo de "Mainha" e partiu
sem que ninguém o percebesse. Melhor assim. Pior, se de punho erguido, xingasse
a todos, indistintamente e os desafiasse como é do seu feitio quando
acompanhado de sua gangue. Mal sabia ele que, naquele didático domingo o Sobrenatural
do Almeida (o Coveiro do Fluminense do Rio), e personagem mítico de Nelson
Rodrigues resolveu baixar no Povoado Lage e provocar derrota tão catastrófica,
política e futebolística.
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