Texto para a coluna “Prosa, Poesia e Política”, em Rádio Vermelho.
Primeiro, caberia, cabe a pergunta: elite de quê? Qual elite? Será quem paga um mil reais, ou 990 reais para assistir a uma partida de futebol?
O chamado “publico diferenciado”, que uma colunista da Folha já chamou de “gente cheirosa, ou gente perfumada”, e que o ex-ditador Figueiredo achava superior ao povo, que tinha cheiro pior que cheiro de cavalo, lembram? Pois o público diferenciado na abertura da Copa retratou bem a elite que vaia os médicos cubanos, chamando-os de negros escravos. É a mesma que escandalizou o mundo civilizado, quando Lula recebeu o prêmio de Doutor Honoris Causa na França. Lembram? Eu lembro: um dos jornalistas brasileiros, perdão, nascido no Brasil quis dizer, perguntou ao diretor do Instituto e Estudos Políticos de Paris que concedeu o título a Lula:
“Era o caso de premiar quem se orgulhava de nunca ter lido um livro?”. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado. Talvez Descoings soubesse que essa declaração de Lula não consta em atas, embora seja certo que Lula não tenha um título universitário. Também é certo que quando assumiu a presidência, em primeiro de janeiro de 2003, levantou o diploma que é dado aos presidentes do Brasil e disse: “Uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria de presidente da República”. E chorou.
“Por que premiam um presidente que tolerou a corrupção?”, foi a pergunta seguinte. Outro colega brasileiro, perdão, nascido no Brasil eu quis dizer, perguntou se era bom premiar alguém que uma vez chamou de “irmão” a Muamar Khadafi. Outro, ainda, perguntou com ironia se o Honoris Causa de Lula era parte da política de ação afirmativa do Sciences Po.
Descoings o observou com atenção antes de responder: “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.
O fato é que o espantalho Lula/Dilma, com as suas Bolsa Família, perdão, Bolsa esmola e Prounis, ameaçou diminuir o poder secular da elite brasileira.
Essa elite é a mesma dos protestos nas ruas do ano passado, vocês lembram. Se perguntássemos aos revoltados da hora quais eram os problemas do Brasil, a maioria declarava que o maior deles era a corrupção.
Em cartazes, todos víamos nas passeatas “Cadê a Dilma da guerrilha?”. Vídeos no YouTube com falas de carinhas moças chamam para as ruas com “Vamos parar a roubalheira do governo… Vamos parar com essa palhaçada do governo do Brasil… O Inimigo é o Governo”. São deles as vaias, os palavrões contra a primeira presidenta do Brasil. “Ei, Dilma, vai tomar no c...". A vaia começou na área VIP do estádio, mas se espalhou rapidamente por outros setores. Os protestos recomeçaram logo após a execução do Hino Nacional, quando parte da torcida hostilizou a presidente com o mesmo coro.
Mas a elite é isto, meus amigos: não existe festa no mundo que ela não estrague. Com a sua secular falta de educação. Que ela confunde com boas maneiras, com saber sentar-se à mesa, saber distinguir um vinho de outro, que ela macaqueia, fingindo que conhece, meu Deus, que ridículo. Educação é a do homem do povo, que socorre e ajuda outro, que manifesta solidariedade. Mas essa educação, de classe, está certa, enfim: cada macaco no seu galho, como cantava um compositor baiano. O nosso é ficar junto a quem trabalha e sonha pela humanidade.
Xô, elite vagabunda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário