segunda-feira, 7 de julho de 2014

Um homem de Verdade

        "Bolinha", um amigo de longas datas (para a maioria, Seu Nouza),  como outros grandes queimadenses, partiu. Deixou este mundo mundano e foi polemizar, como era do seu feitio, com Deus (para não perder o costume). Um homem de coragem e de princípios tão profundos que poucos conseguiam demove-lo de suas ideias, de suas verdades. Mas não acreditem que fosse uma "mula empacada" como nos referimos àqueles que sentam em cima de suas polêmicas e não aceitam o contraditório.

         Vencia seu oponente, ou se via vencido (dificilmente) pelo conteúdo dos seus conhecimentos, pelos argumentos com lastro, sobretudo o saber popular. Que o digam, em especial, os delegados de polícia de sua época, se vivos forem, de suas defesas em favor dos mais pobres ontem, como hoje, brutalizados pelos poderosos. Dele, numa voz quase inaudível, ecoavam os primeiros gritos de socorro em defesa dos Direitos Humanos dos menos favorecidos.

         Intransigente com a verdade, com a integridade "Bolinha" não perdoava, sequer, àqueles que mais amava, seus filhos. Lembro que obrigou, não sei a Toinho, Quito, ou José Moura, a devolver, em espécie, o valor de uma melancia "furtada", de uma "roça" de seu tio, numa brincadeira comum de garotos daquela época.

         Da mesma forma que "comprou" uma briga com o Governo Federal que ousou colocá-lo em disponibilidade. "Bolinha" era funcionário do IBGE e terminou, após ganhar na Justiça, se aposentando se não estou enganado pelo Ministério do Trabalho. Aliás, minha 2ª Carteira de Trabalho foi preenchida por ele quando exercia seu mister na Delegacia Regional do Trabalho que funcionava na Avenida Sete de Setembro, em Salvador.

         Não havia adversário, a não ser a verdade. Num tempo em que os Delegados de Polícia exerciam o poder como foras da lei, os enfrentava de "peito aberto". Antenor Costa foi um dos delegados mais duro que Queimadas conheceu. Quando Luis Gonzaga "zoando" o tempo em que os homens passaram a usar cabelo comprido cantando o "Xote dos Cabeludos" -
"Cabra do cabelo grande
Cinturinha de pilão
Calça justa bem cintada
Costeleta bem fechada
Salto alto, fivelão
Cabra que usa pulseira
No pescoço medalhão
Cabra com esse jeitinho
No sertão de meu padrinho
Cabra assim não tem vez não"
- Costa "engrossou o cangote" e decretou que cortaria o cabelo de qualquer rapaz que andasse pela rua fora do "padrão" normal, fosse lá isso o que fosse.
         Foi o que bastou para que "Bolinha" que não tinha lá esses chamegos com a moda de cabelo grande autorizasse os filhos a usar para "ver" se o delegado tinha coragem de cumprir o prometido. O dito, do delegado, ficou pelo não dito. Ele sabia quem enfrentaria.
         Vocês, com certeza, querem saber a razão do "Bolinha". Bom dizer, na verdade, que foi ele que passou a chamar-me dessa forma por eu ter levado um "Chute" de uma namorada de maneira digamos, assim, deselegante. Como só me chamava dessa forma passei a chamá-lo também. Um jeito carinhoso de amigos de idades díspares (23 anos de diferença) se cumprimentarem.
         Meu adeus a este grande queimadense, defensor dos pobres e dos oprimidos e um incansável batalhador da verdade e da justiça. Sentimento aos seus filhos, parentes e amigos.

            

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