“Na lápide de Lula
hão de constar a incorporação dos miseráveis à agenda governamental, o desafio
ao complexo de subalternidade das elites tradicionais”
(
Poucos personagens públicos do Brasil contemporâneo serão homenageados com lápides congratulatórias. Em sua maioria nada têm de si senão a obsessão de sobrepujar o próximo. Aí confraternizam acadêmicos, artistas, esportistas, jornalistas e, claro, políticos, salvo Lula. Atávica inclinação vampiresca, o canibalismo de caráter não é produto exclusivamente nacional, está globalizado, mas temos produzido inspirados episódios de canalhice.
Não lhes faltam aplausos externos. Se o vampirismo é
inevitável, o afã construtivo é matéria de escolha e competência – aqui a
excepcionalidade de Lula. Ninguém dele dirá que tenha sido angelical. Nem
isento de graves pecados. Provavelmente só o próprio conhecerá a extensão de
sua vilania. Assim como seus adversários saberão das suas. Mas o que é público
e notório está à disposição de todos, não obstante o verbo ressentido das
denúncias.
Na lápide de Lula hão de constar a incorporação dos miseráveis à agenda governamental, o desmascaramento da ideologia da sociedade sem classes e sem raças, o desafio ao complexo de subalternidade das elites tradicionais. Audácia imperdoável. Há de constar que, ferido o indivíduo, empunharam armas os sombrios heróis dos assassinatos sem risco, das infâmias subsidiadas, da valentia do monólogo. Através do indivíduo miram os descalços e esfarrapados, como se o desejado féretro de um abolisse a existência dos outros. Em vão.
Na lápide de Lula hão de constar a incorporação dos miseráveis à agenda governamental, o desmascaramento da ideologia da sociedade sem classes e sem raças, o desafio ao complexo de subalternidade das elites tradicionais. Audácia imperdoável. Há de constar que, ferido o indivíduo, empunharam armas os sombrios heróis dos assassinatos sem risco, das infâmias subsidiadas, da valentia do monólogo. Através do indivíduo miram os descalços e esfarrapados, como se o desejado féretro de um abolisse a existência dos outros. Em vão.
Nem sucumbirá o homem público nem o soterrarão
os carnavais de almas rotas pelo ódio. É simplesmente triste observar a
revelação da mesquinharia das assim chamadas pessoas de bem, justiceiros de
oportunismo em busca de um naco da reputação do grande líder popular. Lula, o
intérprete dos desassistidos, permanecerá intacto, ainda que o comprovem
privadamente pérfido. É possível, mas será o homem com CPF, não o vitorioso no
duelo com os reacionários. Estes não terão lápide, não terão memória, não terão
registro. Serão abolidos.
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