quarta-feira, 8 de julho de 2015

Uma direita fraca a caminho de uma derrota histórica




Por Ion de Andrade, no GGN


Quando lidamos com um adversário que presumimos mais forte do que nós, uma reação bem esperável é fazer muito barulho. Ocorre quando o ser humano está ameaçado por animais selvagens, mas também em situações de ameaça de violência ou roubo nas cidades. As reações exageradas, barulhentas e espetaculosas costumam, portanto, ser um forte indício de inferioridade na correlação de forças. Servem, aliás, para esconder essa verdade e almejam uma vitória baseada no blefe e na covardia do oponente mais forte que pode não pagar para ver.
A febre pelas análises de conjuntura, de que a esquerda se tornou excessivamente dependente, dificultam qualquer análise mais larga que escape ao barulho produzido pelo adversário acuado e temeroso. A conjuntura nos leva a acreditar nas bravatas e nos faz esquecer de que quem é mais forte no cenário da política hoje são as forças nacionais democráticas que modelaram o Brasil contemporâneo.
Dizem as pesquisas de popularidade que a presidenta teria 9% de “ótimo” e “bom”, mas como explicar que 25% dos eleitores brasileiros continuem a se identificar com o PT? É claro que os 9% da presidenta estão incluídos nesses 25%, mas quantos são os que, embora avaliando mal o governo, não dariam (de jeito nenhum) o seu voto às forças conservadoras? Presumivelmente mais do que os 25% atribuídos ao PT. Essa análise de luz e sombras mostra que a base política da presidenta, apesar da decepção com o governo, parece sólida. Penso que os conservadores devem saber disto. Noutra pesquisa Lula teria 25% dos votos, Aécio 35% e Marina 18%... Por que é que Marina, que nada mais representa, foi incluída na pesquisa? Para evitar o óbvio: Lula vence Aécio em todos os cenários e seria inacreditável outro resultado...
Duas estratégias frágeis estão novamente abertas para impedir a presidenta. A primeira vinda do TCU não conseguirá, na hipótese da não aprovação das contas da presidenta, produzir a maioria necessária à cassação do mandato. O expediente foi utilizado por todos os governos da República antes de Dilma. O pacto pela legalidade recém alinhado demonstra a força dessa bancada que reúne mais do que o necessário para derrotar o PSDB e seus aliados numa empreitada como a derrubada de um governo que teve 54 milhões de votos.
A outra é a tentativa de cassar o diploma da presidenta no TSE. Como se o Tribunal Superior Eleitoral fosse reagir como uma torcida de futebol em que três votam pelo governo, três contra e Fucks seria o infiel da balança. Por favor. E há quem acredite em tamanha asneira mesmo no campo da esquerda. Para que o processo prospere o crime teria que ser muito bem provado o que, obviamente, está muito longe de ser o caso, até porque todos sabem que se trata de uma mentira.
Finalmente estamos numa quadra em que a direita, nesse esforço hercúleo de tentar intimidar o campo nacional democrático no grito, está indo longe demais. O grande elan que construiu o Brasil dos últimos anos ruma para a equidade, a tolerância, a liberalização dos costumes e a democratização da sociedade. Essa inércia pode até ser contida, mas ela é que é, indiscutivelmente a megatendência que molda a nação. O Brasil não tem repertório para, de uma hora para outra, vir a ser convertido numa república teocrática, racista, homofóbica e senhorial. Ao contrário, o que pode vir a ocorrer é que essa megatendência posta em contenção pelas forças conservadoras exploda eleitoralmente ainda em 2016 produzindo em grande escala o que já estamos vendo no microcosmo da política onde personagens como Malafaia rumam para o isolamento completo. Penso que hoje poucos o quereriam num palanque e isso já é bem diferente de há apenas escassos sete ou oito meses atrás...O sucesso do vídeo de Joanna Maranhão é outro indício de que os ventos estão mudando. A Globo defende Maju e esposo dos ataques xenófobos de uma extrema direita sem remédio e a Folha publica editorial louvando o Estado laico e a liberdade de costumes. Sim os ventos estão mudando.
Não se trata de PT, se trata da agenda modernizadora que o brasileiro comum não quer perder, da sua pertinência como nação, como disse a presidenta, a uma cultura e a valores ocidentais. A direita joga uma difícil carta, para retomar uma terminologia gramsciana de “orientalização” do Brasil para golpear o poder.
Sem força para derrotar o campo nacional democrático nas urnas, sem força para derrotá-lo na lei e sem forças para derrotá-lo na marra a direita aposta todas as suas fichas de que o derrotará com a derradeira arma do vencido: o ruído ensurdecedor da ameaça golpista. Para que isso desse certo teria que contar com uma covardia inédita da nação e com uma secretude que não existe mais: estão fracos e rumam para uma derrota histórica.
O circo acabou. O discurso golpista é a voz grossa de personagem esquálido e acabrunhado. Em sete meses de oposição feroz e sem trégua mostraram armas de baixo calibre, munição podre e muita verborragia. Isso é muito pouco para curvar uma democracia vibrante como a nossa. A convenção do PSDB mostra que não têm projeto de sociedade e estão perdidos. Uma autêntica oposição ao Brasil como em ato falho reconheceu alguém.
O discurso da presidenta sinaliza que os ventos mudaram de direção e que a iniciativa política pertence, novamente, ao campo democrático.
A reação de Aécio e Alckmin à entrevista de Dilma demonstra claramente que, longe de ser uma estratégia bem montada e detalhada, o golpe é uma aventura de políticos menores: ficaram ansiosos e mostraram espoleta curta...
Antevejo que o campo democrático e nacional esmagará essas forças orientais em 2016 e 2018. Firmeza e paciência, trabalho e foco. A megatendência que molda o Brasil é que tem supremacia e ela nos leva a mais equidade, mais tolerância, mais democracia e mais liberdade de costumes.
E o truque da ameaça golpista já era.

Um comentário:

  1. ADMIRO MUITO O SEU TRABALHO, É IMPECÁVEL, CONTUDO, SUAS PREVISÕES NÃO SE CONFIRMARAM. Faltou AO AMIGO, UMA ANALISE MAIS PROFUNDA DA NOSSA HISTORIA, pois sabe-se que todo movimento golpista vindo do centro político, Café com Leite, sempre obteve sucesso.Há uma ressalva. Getúlio Vargas, apoiado por Flores da Cunha, amarrou seu cavalo no Palácio Piratini, mas, isso foi em outros tempos, porque na verdade, uma reação popular hoje, terminaria num verdadeiro banho de sangue e adivinhe para quem sobraria a conta. A política de hoje, no Brasil, é igual a da 1a. Republica, onde quem menos mandava era o povo, aliás, o Povo nem voz tinha.

    ResponderExcluir