quarta-feira, 12 de março de 2014

Súplica Nordestina



Oh Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair, cair sem parar

Oh Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso que o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há


 "Súplica Cearense" é uma canção do cantor e radialista e humorista e artista de circo baiano Waldeck Artur de Macedo, mais conhecido como Gordurinha, em parceria com o compositor Nelinho, lançada em 1960 e gravada pelo próprio gordurinha 



Por Haroldo Aquilles


O sol já nasce causticante e o dia amanhece com temperaturas mínimas que variam de 25° a 28°graus, alcançam facilmente os 31°, 33° ou até mais e, lentamente, entre as 18 e 22 horas recuam para os 28°ou 26° graus iniciais. O sertanejo apura seus sentidos, observa a direção dos ventos; os sons da natureza que o cerca; o movimento dos animais e ausculta os céus.


Procura um sinal, por menor que seja. Mas seu sonho de um período chuvoso no sertão nordestino vai se desvanecendo a cada dia. E cada vez mais ele percebe que vamos atravessar mais um ano de seca, se bem que não com a mesma intensidade dos últimos três anos, mas, que,, se somados agravarão ainda mais esta trágica e perpétua ocorrência


Sua última esperança reside mais uma vez nos céus, mas os céus dos anjos e santos ou, mais especificamente, São José. Como cantou Luiz Gonzaga vamos plantar no São José para colher no São João. Mas, se chover, com abundância.

Essa esperança tem razão de ser. Estudos mostram que o mês de março, se pegarmos um histórico dos últimos 30 anos, é o mês que apresenta o maior volume de precipitação de chuvas no sertão. Em Queimadas, por exemplo, de acordo com o Mapa das Chuvas, estudo feito pelo instituto Climatempo, a precipitação de chuvas no mês de São José revela uma média de 85mm.

Portanto, as chuvas de São José não são, apenas, parte de uma crença popular. Ela se baseia em dados científicos. Este mês, por exemplo, as precipitações já estão próximas da média histórica, ou seja, já choveu algo em torno de 40mm. Mas, as esperanças de que ocorram mais chuvas os mantém atentos ao tempo. E o dia 19 é o dia, digamos, assim, “O dia D”.

Ocorre que os frios números do estudo, negam a esperança. Razão para que a desconfiança dos nordestinos sobre o tempo se materialize. É que o período chuvoso deste ano aponta para mais um desequilíbrio. De acordo com o mapa histórico dos últimos 30 anos, nos três primeiros meses do ano a precipitação já deveria estar próxima ou mesmo ter superado a média histórica, ou em termos numérico, os 208mm.

É que, nos últimos 30 anos, a média de chuva para os meses de janeiro, fevereiro e março aponta chuvas de 66mm, em janeiro; 57mm, em fevereiro e 85mm em março, perfazendo um total de 208mm. Ocorre que já vencemos 80% deste período (70 dias) e as precipitações, sequer, alcançaram os 30%, ou seja, 60mm dos 208mm aguardados.

A se manter este quadro de desigualdades de chuvas até abril pode-se apostar em mais um ano de seca. E dificilmente os estudiosos do fenômeno encontrarão adjetivos para qualificá-lo. Se em 2013 esses analistas classificaram os últimos três anos (2001, 2012 e 2013) como a pior seca registrada dos últimos 100 anos, que adjetivos acharão se as precipitações não melhorarem?

É que a partir de maio a média histórica mensal aponta para um declínio forte nas precipitações. De 61mm, em Abril, cai para 43mm em Maio; sobe para 47mm em Junho; cai outra vez para 37mm em Julho e mais, ainda, para 27mm em Agosto e 15mm em setembro e sobe para 18mm em outubro.

Como se pode observar não são boas as perspectivas, sobretudo para os produtores que ainda não foram contemplados pelas chuvas. Se o quadro não se alterar teremos dois grandes problemas: O primeiro, queda na produção das culturas de sobrevivência (milho e feijão). O segundo, e mais grave: falta de água. O espelho d´água da Barragem de Pedras Altas continua crítico, ou seja, com menos de um terço de sua capacidade de volume de água.

A consequência é que toda área do rio Itapicuru-Mirim, à jusante da barragem, a maior parte localizada em território queimadense, continuará sem receber água. Isso em razão de falta de planejamento do Governo do Estado que não construiu mais barragens para dar suporte aos novos consumidores (quase 300 mil pessoas) que foram absorvidos pelo sistema Pedras Altas, devido ao colapso da Barragem do Jacuípe que antes atendia a essa população.


Grave, também, porque a projeto de construção da Adutora Araci Norte, que deveria atender aos municípios de Queimadas e Santa Luz, entre outras localidades, está enferrujando nas gavetas da burocracia estadual. E o povo que morra de sede e fome.

Veja, abaixo, os gráficos sobre precipitação, temperatura e umidade relativa do ar registrados este ano na Estação Automática do Inmet - Instituto Nacional de Meteorologia - instalada em Queimadas.









Os dados abaixo apresentados representam o comportamento da chuva e da temperatura ao longo do ano. As médias climatológicas são valores calculados a partir de um série de dados de 30 anos observados. É possível identificar as épocas mais chuvosas/secas e quentes/frias de uma região.




Mês
Temperatura Mínima (ºC)
Temperatura Máxima (ºC)
Precipitação (mm)
Janeiro
21
33
66
Fevereiro
22
33
57
Março
22
33
85
Abril
21
31
61
Maio
20
29
43
Junho
19
27
47
Julho
18
26
37
Agosto
18
27
27
Setembro
19
30
15
Outubro
21
32
18
Novembro
21
34
50
Dezembro
22
34
70



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