segunda-feira, 10 de março de 2014

Mas, (A)onde foi parar o caminhão compactador?



Olha aí, gente, o desaparecido caminhão compactador da Ecolurb!!



       Ao final (último parágrafo) do post "Um prefeito sem respeito e que age como moleque" escrevi: “Aliás, lembro ao nobre vereador que traiu o seu padrinho, que o caminhão compactador da empresa está parado há seis meses e guardado a sete chaves. Como o vereador não é ingênuo, ele sabe aonde encontrá-lo”.

Anônima”, leitora atenta deste blog (bem vinda, professora), foi rápida no gatilho e atirou com a certeza de que acertara o alvo ao apontar o erro (aonde no lugar de onde), conforme escrito acima. Deduz-se, infelizmente, pelo formato do texto, que “Anônima” ao dar o tiro não tinha como objetivo alertar o editor para o erro e evitar nova repetição.

Aliás, essa é uma o observação sem qualquer dúvida pertinente e bem vinda porque ajuda a melhorar cada vez mais o estilo, a qualidade e, sem sombra de dúvida, a escrita deste simples blogueiro que não se considera um mestre do escrever correto. Até porque não foi, infelizmente, aluno da professora Walquíria Vargas Santana, de saudosa memória e, muito menos, do Ginásio Municipal de Queimadas. Talvez, por isso, o escorregão imperdoável. 

Mas a verdade é que a “Anônima” e atenta leitora não teve por objetivo resguardar o “bom português”. Foi uma tentativa vã de desqualificação. Observem a forma como ela arma seu texto: “Sr. Haroldo: não é aonde encontrá-lo e sim onde encontrá-lo, para um jornalista que se auto denomina especialista em comunicação, lembre-se da saudosa professora Walquiria Vargas Santana do Ginásio Municipal de Queimadas que explicava que só com os verbos de movimento que usamos aonde, exemplos: aonde você vai?, onde você mora?” 

Apesar do “escorregão” peço a atenta “Anônima” que continue vigilante e aponte novos erros que, com certeza, voltarão a ocorrer. Mesmo porque não sou e nem me denomino especialista em comunicação. Sou apenas um jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia em Comunicação, com habilitação para o Jornalismo e especialista em MultiMeios pela FTC - Faculdade de Ciência e Tecnologia.

Mas, pelo menos sei que tenho uma leitora de olho no blog. Ao ler sua observação, respondi com uma única palavra: Anotado. Isso, em razão de que militando nessa área escorregadia optei por procurar uma outra fonte, porém, mais competente e capacitada para estendermos essa pequena discussão que, por certo, pode servir para um bom debate em sala de aula.

Dessa forma, resolvi promover esta pesquisa e publicar o texto da professora Marla Andrade como um post. Acredito que, assim, este blog contribui para o bom debate. Vamos ao material, então:

Por Marla Andrade, especial para o blog


É bem colocada a observação da leitora sobre o uso do onde e aonde se tomarmos por base a Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Para a gramática normativa tanto onde como aonde são advérbios, relativos ou interrogativos, consoante os contextos, mas sempre com valor locativo, isto é, indicam o lugar.

A diferença essencial é que onde deve indicar um lugar estático ou o local onde algo está (ex.: o sítio onde deixei o carro é escuro; onde ficaram os meus óculos?) e aonde deve indicar um movimento ou uma direção para um lugar (ex.: deslumbrou-se com os museus aonde foi; aonde foram ontem?).

A gramática normativa é aquela que prescreve as regras, normas gramaticais de uma língua. Ela admite apenas uma forma correta para a realização da língua, tratando as variações como erros gramaticais. Atualmente é muito criticada pelos gramáticos, pois já se admitem outras gramáticas como a descritiva, a gerativa, etc. A Gramática Normativa toma como base as regras gramaticais tradicionais e o uso da língua por dialetos de prestígio como por exemplo obras literárias consagradas, textos científicos, discursos formais, etc.

Embora a Gramática Normativa traga a regra explicitada acima sobre o uso do onde e do aonde, a Linguística, Ciência que estuda a língua, traz conceitos e visões muito diferentes. Segundo Santos et al. (2014), as palavras são originariamente polissêmicas. Elas permitem a língua caracterizar um item lexical com uma diversidade de significados que mantêm uma relação entre si.

Essa polissemia dá ao usuário uma criatividade linguística natural e necessária. A diversidade de sentido que as palavras podem apresentar possibilita às pessoas utilizarem-nas de maneira variada trazendo para a língua uma riqueza de sentido, comprovando a cada vez que ela (a língua) é um fenômeno heterogêneo, possui múltiplas formas de manifestação, é variável, portanto está suscetível a mudanças que se apresentam a partir de práticas históricas e sociais e essas variações e mudanças se apresentam em situações concretas de uso.

Há que se considerar ainda que, embora a gramática procure estabelecer diferenças entre o advérbio onde – lugar em que – e aonde – lugar a que, encontra-se no uso da língua o emprego de uma forma como podemos observar a partir dos exemplos abaixo: (SANTOS et al., 2014)

Aonde você estava? ou Onde você vai?

- Onde você mora?

- Aonde?

A utilização da língua por falantes baianos nos apresenta outro modo bastante difundido e compreendido por falantes de variadas idades, classes sociais ou com diferentes níveis de escolaridade. Assume o sentido de advérbio de negação bastante comum na fala do baiano. Vale destacar que esta ideia contraria a classificação comum dos advérbios, a qual apontam apenas o não como advérbio de negação.

É o que podemos observar no diálogo abaixo:

– Salvador não é uma cidade muito interessante!

– Aonde!!!?

Aonde assume um sentido diferente, pois agora é utilizado metaforicamente para negar. Ele deixa de ser um advérbio de movimento, de lugar, para se tornar um advérbio de negação. É verdade que esse uso ainda está restrito à coloquialidade da língua, mas nada impede que em breve ele seja dicionarizado.

Quanto ao uso de onde no lugar de aonde, e vice versa, já está presente em muitas modalidades da língua, principalmente nos textos da área da comunicação e vem sendo aceito pelos linguistas, ficando de fora, por enquanto, os textos acadêmicos, mas tudo indica que se proliferará com êxito.

O uso metafórico da palavra em análise, no sentido de advérbio de negação, envolve domínios cognitivos, ou seja, domínios da experiência do mundo, que permitem que esse léxico “aonde” seja aceito plenamente nesse contexto e em muitos outros, ou seja, a língua muda com o passar do tempo, com a influência dos falantes, sua história, sua cultura etc.

Um absurdo?? Aoooooonnnnde!! Bom demais!!! A língua muda e evolui como tudo na vida, pois reflete o próprio usuário!! (A)Onde nós vamos parar? Na utilização democrática da língua, na falta de preconceito linguístico e social com certeza!!


REFERÊNCIAS

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

FLIP. Como e quando se usa onde e aonde? Disponível em http://www.flip.pt/Duvidas-Linguisticas/Duvida-Linguistica.aspx?DID=68> Acesso em: 09 mar. 2014.

LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metáforas da vida cotidiana. Trad. de Vera Maluf. Campinas: Mercado de Letras, 2002.

SANTOS, D. B. O. Aonde, advérbio de lugar – aonde um estudo de gramaticalização do aonde na Bahia. Disponível em:< file:///D:/Marla/116.pdf> Acesso em: 09 mar. 2014.

5 comentários:

  1. Satisfeita professora Carla?

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  2. Em mais uma manobra pra desperdiçar dinheiro público e surrupiar sei lá de que forma, o secrétario municipal e o prefeito, implantam mais um serviço de consultoria, que preferem chamar de "projeto", um tal de GEF, que pra mim é só mais um perda de tempo, pra tentar mostrar que estão fazendo alguma coisa pra melhorar a educação, quando na verdade o prefeito que é o principal responsável, deixa as escolas abandonadas e nada faz pra melhorar os colégios. Inclusive o preguiçoso secretário, mau anda nas escolas, até agora sem merenda e nada de realmente prático pra melhora a educação só maracutaias...

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  3. O senhor prefeito continua enchendo a prefeitura de contratados, com uma teoria suícida. Crê ele que desobedencendo as clausulas do TCM, que a camara aprovará suas contas, no entanto, esquece-se este cidadão, que nem sempre as contas vem com o prefeito ainda no cargo, quase sempre sobram uma ou duas contas pra frente, quando o cara não é mais prefeito e ai toma pau...

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  4. O vereador Valmir Barreto que de alguma forma tomou a redea do prefeito, está enchendo a secretária municipal de educação de funcionários contratados, colocando seus amigos jovens e parentes pra trabalhar, todos trabalhando pouco e ganhando muito, sem nehuma necessidade e pior só coloca quem nem tanto precisa do emprego, pessoas que há anos mamam nas tetas do municipio sem nunca ter prestado concurso, apenas ficam pulando de galho em galho, sempre pro lado que vai ganhar e vão ficando sem nunca terem feito concursos... onde está o promotor que no mandato de Serginho seu antecessor impos um tal de TAC, de ajustamento de conduta? Temos promotor em Queimadas? Está de férias? Está a passeio pelo municipio? ou não cumpre com seus deveres de fiscalizador?

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  5. É isso ai! E onde tá a APLB que no mandato de Serginho fez uma cruzada contra contratos e agora não fala nada?

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