Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Dilma foi melhor no Jornal Nacional do que tinha sido na sabatina do UOL.
Eduardo Campos, num de seus últimos pronunciamentos, disse que a cada entrevista você vai melhorando, como se estivesse treinando futebol.
Foi uma boa imagem, e isso explica pelo menos em parte o avanço de Dilma no JN em relação ao UOL.
Ela foi também beneficiada por uma coisa: a previsibilidade das perguntas. E então pôde se preparar adequadamente.
O foco da sabatina, como era de imaginar, foi corrupção e economia, com um breve intervalo em saúde.
Na corrupção, o que se viu foi como um braço de ferro entre Bonner e Dilma, no qual ela se saiu melhor.
Por uma razão. Bonner foi de uma credulidade brutal ao falar nos sucessivos “escândalos” do governo Dilma.
Ele falou como se acreditasse em todos.
Ora, fora do universo fechado das grandes empresas de mídia, todos sabemos quanto há de exagero ou mesmo invenção nas constantes denúncias trazidas bombasticamente por jornais e revistas, e depois ampliadas pelos telejornais como o comandado pelo próprio Bonner.
Dilma lembrou, com propriedade, que muitos dos “escândalos” não se comprovaram reais depois de investigados.
Ao questionar a mídia, Dilma como que trocou de papel com Bonner por momentos. Era como se ele fosse o sabatinado.
A mídia não resistiria a uma sabatina sobre o rigor jornalístico na maior parte dos “furos” de corrupção no PT.
Carlos Lacerda fabricava casos de corrupção contra Getúlio Vargas para dar feições terríveis ao “Mar de Lama”. Não tem sido muito diferente nos dias de hoje.
Bonner, mais uma vez numa posição de absoluta credulidade, invocou as decisões do Supremo no Mensalão como acima do bem e do mal.
Ora, valeu tudo no julgamento. A começar pela inovação de condenar sem provas com a assim chamada “teoria do domínio do fato”, uma excrescência jurídica que deve se despedir do Supremo junto com Joaquim Barbosa.
Dilma completou a boa resposta ao lembrar que em nenhum momento comentou as decisões do Supremo por respeito à autonomia dos poderes.
Patrícia Poeta trouxe a saúde ao debate, mas eis um terreno bom para Dilma. A saúde pública brasileira, com todas as suas conhecidas precariedades, foi amplamente beneficiada na gestão Dilma pelo programa Mais Médicos.
Falar em saúde com Dilma é como dar a ela uma oportunidade de lembrar as dimensões do Mais Médicos. Que outro programa na saúde pública teve tamanho impacto quanto este?
A economia foi brandida por Bonner contra Dilma. Mais uma vez, era fácil antever as questões: inflação e baixo crescimento.
Não foi o melhor momento para criticar a inflação sob Dilma, porque as últimas taxas são particularmente baixas, quase na casa do zero por cento.
Bonner pareceu querer responsabilizar Dilma pelo baixo crescimento, como se a crise econômica internacional que estourou em 2008 fosse uma simples desculpa.
Não é.
Num mundo tão interconectado, uma crise internacional acaba por afetar todo mundo.
Numa primeira fase, é verdade, os países emergentes conseguiram escapar dos apuros, com destaque para a China e seu crescimento na casa dos 10% ao ano.
Mas, depois, também os emergentes foram apanhados pela onda. O crescimento econômico da China, para ficar no caso mais conspícuo, sofreu uma notável desaceleração nos últimos dois ou três anos.
É neste novo ambiente que também a economia brasileira começou a andar mais devagar.
Dilma se saiu bem ao lembrar que, ao contrário de outras crises, a resposta agora não se traduziu, para a sociedade, em arrocho de salários e demissões em massa.
O real problema da economia brasileira não é o baixo crescimento momentâneo – mas a desigualdade de sempre.
Não adianta nada ter um PIB que cresça 10% ao ano se o dinheiro for parar num pequeno grupo privilegiado enquanto a miséria persiste entre tantos brasileiros.
Mas desigualdade não é um tema para Bonner e nem para a Globo.
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